21/12/2010

[Texto distribuido em Novembro 2010] O TGV não vai passar por aqui porque nós não vamos deixar.

Descarregar texto completo em PDF

RAVE: em alta velocidade a destruir tudo por onde passa

O projecto do comboio de alta velocidade (TGV; em Portugal foi nomeado RAVE – Rede de Alta
Velocidade) vai começar a ser construído entre Lisboa e Caia, na fronteira com Espanha, para a partir daí
continuar até Madrid. A sua construção é uma imposição, independentemente das pessoas afectadas, da
sua vontade e do seu bem-estar. As expropriações por parte do Estado já começaram.
A discussão sobre este projecto tem sido, até hoje, meramente política: partidos e organizações
sentam-se à mesa de negociações e regateiam onde, quando e como será este projecto levado em frente. O
seu interesse não está em parar este projecto de morte, mas em decidir qual será a forma mais vantajosa
de o construir, e em que momento será economicamente mais aceitável. Mesmo aqueles que estão
sinceramente contra a construção do TGV, a nosso ver até hoje não apresentaram nenhuma forma
concreta de resistência e ataque a este projecto que o possa efectivamente parar.
Nesta discussão política, todos os factores entram em consideração, excepto um: a nossa vontade de
viver e circular livremente e de destruir os planos que sufocam a nossa vida e os sítios onde vivemos.
É por isto que pensamos que a resistência ao TGV deve ser tentada através de uma luta anti-política,
uma luta que ponha em prática os nossos desejos, necessidades e vontades reais, e que verdadeiramente
consiga pôr um travão no avanço da morte. Esta luta, além de recusar a negociação com aqueles que nos
tentam impor vidas que não queremos, deve ser uma luta de ataque e não de simples resistência, ou seja,
deve tomar a iniciativa e agir da maneira que cada um achar melhor, tendo como alvo as obras do TGV,
estações e acessos, assim como as empresas e instituições envolvidas na sua
construção/exploração/financiamento.

Porque é que o TGV é um projecto de morte?

Porque a sua construção vai destruir centenas e centenas de quilómetros de floresta, montanha,
planície e terrenos de cultivo, assim como milhares de casas, palheiros, fontes e cursos de água.
Porque, como a linha inclui barreiras em todo o seu comprimento, vai separar fisicamente pessoas que
fiquem a viver em lados diferentes da linha e pessoas dos seus locais de trabalho, passeio, namoro, etc...
Também os animais vão deixar de poder cruzar os campos, dado que vão deparar-se com uma barreira
intransponível à sua frente.
Porque vai causar um barulho ensurdecedor de cada vez que um comboio passar, com todos os riscos
para a saúde psicológica que isso acarreta.
Porque as crianças e pessoas com um espírito rebelde que desejem atravessar o campo onde sempre o
fizeram vão trepar as barreiras de protecção, recusando na prática a imposição de barreiras no seu
caminho, e por isso a ameaça que a RAVE lhes coloca é a de atropelamento ou electrocussão.
Porque querem enterrar para sempre a beleza daquilo que é a viagem, daquilo que se vê, ouve e sente
no espaço e tempo que percorremos entre um local e o outro.
Porque a sua existência serve unicamente os interesses das máfias construtoras, políticas, banqueiras,
dos grandes donos de terras e dos empreendimentos turísticos. E nós estamos fora e contra todas elas.
Porque quem o vai utilizar maioritariamente são as elites políticas, económicas, patronais e turísticas
da Europa: e para dizer a verdade estamos fartos de elites e das suas ordens, e dá-nos asco a ideia de vêlos
atravessarem-se no nosso campo de visão.
Porque a visão de um monstro de metal a rasgar os campos ofende os nossos sentimentos mais
íntimos de amor pela terra, pelo espaço e de uns pelos outros. É como ver a destruição sobre carris a
romper em alta velocidade as nossas memórias e os nossos sonhos.

Quem está contra o TGV?

- Os partidos da direita, que nos parece serem contra o TGV apenas porque estão na oposição e é isso
que a oposição faz: opor-se ao governo. De facto, as questões que têm levantado são meramente acerca da
pertinência deste projecto no dia de hoje, devido à falta de dinheiro. Ou seja, não são verdadeiramente
contra o TGV, o seu interesse é simplesmente o de serem eleitos e com isso decidirem eles quando é que
o vão construir e quais as máfias que preferem beneficiar.
- Os ecologistas, que se pautam pela indecisão, sendo que há os contra o TGV porque vai destruir
muitos hectares de floresta, ao mesmo tempo que há os a favor do TGV porque supostamente é um meio
de transporte não poluente. Aos primeiros reconhecemos a sua sinceridade, mas lamentamos as formas de
resistência que até hoje foram propostas e que normalmente propõem, e que têm a haver com
manifestações inócuas que nada atacam, acções simbólicas que infelizmente fazem rir os nojentos líderes
que nos querem impor determinados projectos, e abaixos-assinados que simplesmente procuram o
reconhecimento e a negociação com aqueles que nos estão a lixar. Aos segundos, além de querermos
perguntar como é possível uma obra desta envergadura e materiais envolvidos serem considerados “não
poluentes”, há uma questão para nós mais fundamental: ao enaltecerem as razões ambientais esquecem
toda a questão social e de classe, ou seja, o facto de um projecto deste tipo destruir completamente
relações e formas de vida e despedaçar ainda mais cada indivíduo por ele atingido, e que aparentemente
nada pode fazer face a tamanha monstruosidade.
- Os pacifistas e humanistas, que até podem ser contra a construção do TGV, mas ao serem pela nãoviolência
são também contra a ideia de ataque, e dessa forma deixam descansadas todas as empresas e
instituições interessadas na construção do TGV.
- Por fim, há todos os outros onde nos incluímos que, sem interesses políticos nem ideologias que
bloqueiem a sua acção, têm todas as razões para tentar de facto travar este projecto de morte, e um vasto
leque de ferramentas ao seu dispor que poderão ser experimentadas.

Uma possibilidade

Através da auto-organização e da acção directa de todos os que verdadeiramente desejam travar a
imposição da morte poderemos fazer descarrilar este projecto.
Nesta luta que recusa a lógica do progresso, do patriotismo e do parlamentarismo, estaremos lado a
lado com aqueles que agirem de forma honesta, decidida e concreta contra este projecto que nos quer
roubar mais um pedaço das nossas vidas. E recusaremos qualquer diálogo com quem o pretende levar
avante; não há diálogo com quem tenta impor a destruição das nossas vidas.

Juntos podemos destruir a RAVE!
Alguns anarquistas daqui e dali